quinta-feira, dezembro 31, 2009

Ainda a reserva genética, agora da Mauritania

Onde ainda se practica a excisão...

Calibre


Foi mesmo esse... 19 gramas

Onde tudo se repete


le gibier a grossis...le chasseur aussi

Quando tudo começa


O nascer do sol

Humanidade


A memória dos nossos genes e as reserva genética
da humanidade

Senegal e Gambia



As boas vindas

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Profecias

"Her beauty caused Apollo to grant her the gift of prophecy. However, when she did not return his love, Apollo placed a curse on her so that no one would ever believe her ...".

E assim um nome ficou para sempre ligado á tragédia grega. Um dom que não se sabe ou não se pode usar. Apenas passível de metamorfoses inoperantes. Inútil quer na Grécia espartanna ou na bárbara península.
Só que... a mitologia e a história se repetem em círculos. Inexoráveis mesmo que se tente trocar de imagem, de tempo e de espaço. Um dia, tudo acabará na "tabacaria", deixando apenas no caminho "Esteves" perplexos e sem metafísica:

"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido."

sábado, dezembro 12, 2009

Relojoaria

É sempre uma descoberta cada ida á Suíça. Mesmo como desta vez em que não saí do hotel do aeroporto de Zurich. A paisagem aérea com os vales e as montanhas que quase limitam a sobrevivência e a comunicação. Os lagos de contos de fadas. A eficiência em tempo certo, sem precipitações nem improviso. Alguns acham-na monótona e triste. Eu sempre preferi a complexidade simples de um relógio mecânico á exuberância de um de pilhas. Não se esgotam e vivem do próprio movimento e da vida.

sexta-feira, novembro 20, 2009

trutas y patagónia setentrional


o fim gelado e um vento vindo do infinito...

o princípio...


rusticidade da cabaña







a paisagem




Se algum dia voltar a passar pela minha cabeça um regresso a estas paragens estas imagens serão suficientes para fazer prevalecer o bom senso....

sexta-feira, novembro 13, 2009

segunda-feira, novembro 09, 2009

O estado onírico

As pessoas não são aquilo que aparentam. Nem sequer são o que gostariam de ser. São apenas emanações grosseiras ou sofisticadas daquilo que delas queremos que projectem. E assim o terreno fica delimitado para a actuação de um lado.Desnecessária face á voluntária cegueira do outro lado.
Em tempos julguei que haveria vendedoras de miragens. Hoje mesmo soube que sou eu próprio que crio a imagem e a vendedora. E isso é apenas quando não vendo as minhas próprias miragens.

terça-feira, outubro 06, 2009

Tributos

Há certas obrigações que se pagam com alguma revolta. Vide o IRS no meio deste continuado desbragamento fiscal. Outros com indiferença como uma portagem. Ainda alguns com gosto, como o tomar conta de um amigo. Mas dei comigo ontem, feriado, a comprar queijo magro, feijão verde, formas luso...com prazer. Só depois percebi que estava a pagar o tributo á minha liberdade.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Aos dezassete anos acabados de fazer

Viajava-se numa linha aérea canadiana, hoje inexistente, até uma ilha mais pequena e seca que tinha por despojo de guerra uma extensa pista. Depois dormia-se num clube com asas, rádio e atlântico. O serão foi passado no cinema dos bombeiros a ver um filme já nessa altura antigo mas que a memória retém: Barrabás.
No dia seguinte, com alguma sorte, apanhava-se um pequeno avião que mal suportava o peso de um piloto obeso quanto mais dos seis passageiros que o podiam acompanhar desde que não levassem muita bagagem. Aterrava-se depois numa pista de pasto, não antes de uma passagem rasante para afastar as vacas que aí ruminavam placidamente, e atingia-se a ilha maior e mais verde.
Chegou com os olhos deslumbrados e o cabelo ainda rapado pela praxe implacável. No tempo dos Beatles e aos 17 anos este débito capilar parecia inultrapassável.
No entanto, numa das numerosas festas que aproveitavam o natal e o fim de ano, conheceu-a.
Começou a perceber, surpreendido, que para o outro género pouco importava o cabelo de presidiário ou o sotaque diferente e que havia uma linguagem eloquente e universal que passava apenas pelo olhar. E que era possível uma relação que dentro de nós conciliava o desejo físico com aquilo que sonhamos. E o amor brotou com a força e arrebatamento da vegetação que lá existe. Límpido, inconsequente e puro como a água de uma lagoa.
As férias passaram e o regresso pelo mesmo, agora longo, caminho. Antes disso entendeu que o a linguagem dos olhos podia revelar ao mesmo tempo dor da despedida, paixão, satisfação e esperança. Só a ultima verdadeiramente infundada.
Voltou a vê-la esta semana. Muitos anos e muitas vidas passados. Mas o olhar lá estava. Sem recriminações nem esperança. Sem fogo. Mas com o reflexo das suas memórias e um sonho fugaz do que poderia ter sido.

100 metros



separam a porta do inferno da porta do paraíso

sábado, setembro 19, 2009

Ainda Veneza


"And there were times,

I am sure you knew

where I picked up

more than I could chew"



Morte em veneza?




Veneza, um postal na janela

Europa mediterranica (1)


Mónaco, principado das aparências:

Os soldados e o render da guarda são de opereta. As princesas não terão as virtudes dos contos, pelo menos dos infantis. O príncipe, se fosse sapo, preferira talvez sair do encantamento com um beijo barbado. E até o mármore do casino é cimento e madeira pintada

segunda-feira, setembro 14, 2009

O relógio do inconsciente

Tudo terá acontecido por acaso. Uma reunião de investigadores de um estudo de uma das numerosas drogas russas compradas por uma companhia ocidental. No Mónaco. A que se juntou o desejo, muitas vezes adiado, de conhecer Veneza. Outra reunião, da Neuronet, em Florença e mais uma distracção do destino. Não havia voos directos e o comboio perfilava-se como mais rápido e apropriado.

Tinha de aprender a viver com a sua doença. Que obsessivamente o obrigava a horários quase rígidos e a alimentação regular e equilibrada. Um cruzeiro parecia novamente uma opção razoável. Uma noite de mistral desde Civitavechia a Livorno e os balanços e rangidos do Funchal levaram-no a procurar refúgio num comboio para Florença. Ia inseguro da sua nova situação mas com companhia solícita e apaixonada.

As chegadas a Florença coincidiram no mesmo mês e no mesmo dia. Só disso teve consciência quando a gare se lhe ofereceu, não como descoberta mas como memória. Cada recanto, cada binário. O vagabundo ainda dormindo no chão. E o mesmo relógio que inexorável e quase milimetricamente tinha marcado 21 anos.
As lágrimas irromperam impiedosas e as recordações voaram para a cidade e para aquele quarto esconso com os telhados antigos por vista e os sinos a tocar. E pela primeira vez continuou a chorar as lágrimas que não tinha vertido, a fazer as despedidas que não tinha feito. Naquele lugar de partidas e chegadas encontrou o passado.

domingo, setembro 06, 2009

Os gestos e as intenções

Que significado terá para cada um a comemoração de uma data? Do aniversário por exemplo. Os cheiros da infância, o centro das atenções de um dia, a família, os amigos?
Este iria ser um dia de anos triste. Só e a milhares de quilómetros de casa, vivendo uma vida dura e sem rumo. Um convite algo inesperado para jantar. Onde encontrou um prato típico da sua terra natal. Um pudim com receita retirada da net. Um bolo com um número de velas já significativo para uma pessoa jovem. Um presente comprado á pressa mas com envolvimento.
Como se passa de um entusiasmo infantil até ás lágrimas engolidas com esforço num rosto brevemente feliz!
E como essa aparente metamorfose foi suficiente para o prazer de quem a olhava. Não teria pois de recorrer aquilo que as outras pessoas lhe costumavam exigir em troca.

sexta-feira, setembro 04, 2009

A fase de perda e o sindroma de vitimização

Chamaram-me a atenção para este texto. "A puta de merda"...Melhor é impossível. O grito da impotencia. Quem pode ganhar combatendo com armas tão desiguais?

segunda-feira, agosto 31, 2009

Meu querido mês de Agosto

Depois de o ter visto no grande ecrã e de, inutilmente, o procurar nos video-clubes e na net, chegou ao pequeno ecrã. Voltei a sentir o mesmo quase encantamento. A ruralidade genuína, por vezes mesmo boçal e autentica vista pelos olhos de um Lisboeta (?) sensível, e com os tics suburbanos que os caracterizam. E claro o mês de Agosto. Dos reencontros, do tempo, das paixões de fogo de palha, das noites em que não apetece dormir e claro, da música pimba. Talvez composta pelos suburbanos com a parte primitiva e campesina que não deixam de transportar.
Talvez seja mais fácil gostar que entender e explicar este país.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Volatilização

As mudanças de estado sempre me fascinaram. Do estado físico, lento e previsível, mas sobretudo dos estados de alma, mais rápidas na aparência.
Com a facilidade que o caçador se torna caça! Ou se não quisermos ser radicais, de como o caçador se torna um guardião atento das espécies que antes perseguia. E onde antes havia conhecimento mutuo e defensivo passa agora a haver cumplicidade e confiança. No mesmo espaço onde antes se defrontavam e desfrutavam muda-se para a protecção e a ternura.
Mudança de estado de alma. Sublimação em sentido físico, passagem directa de sólido a volátil.

terça-feira, agosto 25, 2009

A última

Dizia David Lodge num dos livros da sua época áurea, creio que na "Terapia", que nada há de pior que ser a/o último/a. Mas o último cigarro sabia-se quando foi ou será. Assim como o último dia de trabalho. A última página de um livro (actualmente diria o ultimo suspiro da pilha do aparelho auditivo). Tem hora, tem dia.
A diferença era enorme, acrescentava, em relação á actividade sexual. Nunca se podia dizer que esta seria a última porque nunca se sabia.Tinha-se sempre a esperança que não fosse, quer antes quer depois.

Tristemente esta dicotomia não se pode aplicar aos livros dele. Tive eu a esperança que o "thinkings" não fosse o último. Agora acho que é pena que não tivesse sido.

sábado, agosto 22, 2009

Soit pas fachée

Soit pas fachée…

De manhã bem cedo acordei tranquilo e lúcido com a letra desta canção esvoaçando longinquamente como espuma no meu cérebro. Fragmento a fragmento ia compondo dentro de mim uma ideia, um desejo, quase uma justificação. Como um ligeiro e breve raio de luz que ia iluminando, numa sequencia aparentemente ilógica, recantos perdidos das minhas memórias, dos meus sentimentos, do meu prazer e da minha dor. Da minha vida.

… si je te chante les souvenirs …

As vezes que contei esses souvenirs…os pormenores que descrevi… as composições e acrescentos com que os poli. A falsa modéstia em que tentei envolve-los…

… ces amourettes insignifiants on preparé un grand amour...

Com que intenções que os contei… A demonstração misógena e primitiva..a máscara contra a a insegurança…a preparação do caminho de regresso… a tentativa inábil de subir um patamar a cada relação, como se todo o passado fosse terreno conquistado na evolução para aquilo que não sabia procurar.

…car tu serás ma derniére chanson…

Assim acreditava, como se na vida e no amor pudesse haver primeiro e último. .. Nunca e sempre…Agora e depois… Como se fosse algo que existisse de material, de físico ou mesmo de humano. E não apenas a tal espuma saltitante e raio de luz aleatório e incerto…e fugaz…e imprevisível.

Pouco a pouco como se comandada por irreal disc jockey a melodia foi mudando embora a língua original se mantivesse

Les vieux ne revent plus…

Mas porque continuarão a contar? Serão as intenções travestidas agora de didatismo? Como se quisessem evitar erros e ensinar os percursos, as limitações, o fogo e as cinzas, não a eles próprios, mas á imagem actual dos seus antigos objectos de desejo?

O disck jockey perdeu agora a cabeça e entrou num medley sem rumo nem lógica.

…I wish I can tell
heaven from hell…


…you looked so self secure…
… when you look into de vacuum of his yes…

… what is a man
What does he got…
If not himself then he has naught…

…Ce soir je serais la plus belle
pour aller dancer…

… close you yes close the door
I”ll be your baby tonight…

…like the circles that you find…
In the windmills of your mind…

…ne me quite pas
Je vais plus parler..

…completely unknown
Like a ROLING STONE…

terça-feira, agosto 18, 2009

Os berços precisam de verniz?

Uma velha cama de grades veio, por puro acaso do destino, aterrar aqui em casa. Contou-me muitas historias da infância, de adormeceres serenos e despertares intensos. Evocou-me múltiplas imagens que presenciei através das sua grades, das figuras e dos objectos que na altura me rodeavam. Das histórias e dos sonhos que nela vivi. Da imaginação reconfortante que me povoava quando me abraçava á boneca de borracha que arduamente negociei com a minha irmã. Das próprias histórias da cama, de onde tinha vindo, a quem tinha servido na família. E o desejo súbito que um futuro neto partilhasse destas experiências.
O restaurador habitual das coisas velhas e provavelmente inúteis e a discussão do trabalho a fazer concluída com esta frase que registei:
- "Os berços antigos não precisam de verniz"

Por experiência própria e recente eu teria obrigação de saber...

sábado, agosto 15, 2009

Modern Times revisitado

Em casa depois da segunda visita aos Modern Times. Técnica irrepreensível. Mas a natureza não evoluiu. Os tecidos continuam a reagir com dor, atenuável, edema, parcialmente controlável, e com equimoses. Como após qualquer combate de pesos pesados... Haverá contudo e sempre uma segunda hipótese para o sorriso!

terça-feira, julho 28, 2009

Modern Times

Há seres, porventura mais bafejados pela natureza, em que os dentes vão refazendo o seu desgaste. Noutros ainda renovam-se consoante as necessidades. Como não é esse o caso dos humanos surgiram as M... Clinic (s).
Os meus dentes e uma dessas clínicas cruzaram-se inexoravelmente no último Sábado. Habituado que estou a trabalhar em saúde há muitos anos, e aos cenários montados por muitos dos meus colegas na medicina privada, não me deixei impressionar especialmente pela recepção nem pelo pager- vibrador posto á minha disposição. Nem pela organização e planeamento que me levaram sucessivamente aos diversos andares. Um leve e indefinido descontentamento assaltou-me quando vi que se podia também recorrer a SPA, depilação, manicura etc. Mas muito breve já que, crédulo como sempre, pensei que estava a ficar velho e ultrapassado e que essa associação até podia ser benéfica para os doentes.
Um RX panorâmico e 2 viagens no elevador levaram-me pela primeira vez ao médico dentista. O assistente. Era apenas uma avaliação preliminar já que o “chefe” fazia questão de me ver pessoalmente. Tivemos uma breve conversa. Contei-lhe que os doentes eram muitas vezes vistos pelos meus assistentes e que o meu papel de confirmação era na maioria dos casos redundante. Ele fazia questão, repetiu.

Um TAC e mais 2 viagens de elevador. Algumas explicações técnicas do assistente. E entra o “boss”. “É um caso banal” e o meu coração agradeceu. Esperava então uma explicação técnica. O porquê de uma solução ou de outra. “ Esta são 15 mil e a outra são 20 mil”.
Dei comigo a sentir como estou ultrapassado. E como teria sido a minha vida na actual era moderna.

Essa é uma migraine vulgar de 80 euros. Tem sorte porque se fosse migraine complicada seriam 120. Olhe, tem um Parkinson clássico de 10 mil. Desde a fase de “lua de mel” terapêutica até á fase terminal. Nessa altura poderemos discutir a hipótese de implante de estimulador se não estiver demênciado e tiver 50 mil. Se não talvez a assistência social pague o duodopa.
Lamento informa-la que tem uma miastenia gravis de 100 000 euros e.... E os olhos da Nilza aparecem-me de repente com uma nitidez que me assustou. A criança que vi transformar-se em mulher. As repetidas entradas, em crise, na reanimação (actualmente cuidados intensivos). As dúvidas, preocupações e noites passadas á tua cabeceira. Os teus olhos que comunicavam comigo por cima do tubo que te enchia a traqueia. (Quanto valeriam hoje os patos donalds que te levava?) A esperança da nova terapêutica (hoje com mais de 30 anos) que te tirou dessas visitas constantes á respiração assistida. Mas que te matou com as suas complicações que impotentemente não consegui debelar. Justamente uma semana depois de me apresentares o teu noivo e os projectos para a nova vida. Perguntaste-me se podias ter filhos lembras-te?
Hoje ainda sobreviverias. Terias apenas uma miastenia de 100 mil euros! Mas sobreviveria eu sem a recordação do teu olhar ?

sábado, julho 18, 2009

A antecipação

É talvez o que melhor traduz o nosso estado de humor de momento. Dêem-lhe a perspectiva de um momento bom e o prazer começa na nossa imaginação. Mas juntem-lhe um humor menos feliz e a mesma perspectiva antecipa-se em complicações e consequencias.

quinta-feira, julho 16, 2009

Uma questão de calibre

Longe vai o tempo em que viajava para a caça com duas automáticas de calibre 12, cada um dos 5 tiros que comportava carregado com 36 gramas de chumbo. Ao fim de umas centenas de tiros, violentos e ensurdecedores, parava. Mais por uma questão de desconforto que por satisfação.
Fui então progressivamente aprendendo o prazer dos pequenos calibres. Ultrapassei a desconfiança inicial do calibre 20 e dos 24 gr de chumbo. Em seguida seduziu-me o cartucho pequenino da calibre 28 com os seus 19 gramas. Inicío agora uma 410 com apenas 14 gramas.
Vivia eu na minha certeza de que o tamanho não interessava quando alguém aqui na net, numa das conversas que temos com regularidade nos últimos dias, me alertou para as diferenças da caça ao urso. Não interessa a altura dele. Até pode ser pequenino! Pode mesmo aparecer só muito ocasionalmente. Na maior parte das vezes será até prazeiroso, inócuo e inconsequente. Mas quando chega a apreciação do calibre começam os problemas técnicos. Não há cartucheira, nem XL, que o acomode.
Não sei se tenha pena ou inveja do urso. Apenas abalou a minha evolução e as minhas certezas.

segunda-feira, julho 06, 2009

Conceitos

Nas presentes eleições para os órgãos de Gestão da nossa Faculdade, embora integre modestamente uma das listas, tentei manter um distanciamento que se não completamente neutro, me ajudasse a perceber os princípios das duas listas.
Apreciei a elevação e o espírito de cada um dos documentos elaborados e, devo dize-lo, agradaram-me como académico e fizeram-me sentir orgulho numa Faculdade que mostrou dentro de si o poder de discutir e de se renovar.

Tenho, por outro lado, uma enorme admiração, respeito e até gratidão pelo Professor Manuel Antunes.

E se me dou ao trabalho de sair do tal distanciamento gostaria de destacar que o faço apenas para defesa dos princípios que penso devem nortear uma vivencia universitária e á consideração que tenho pelo autor do texto “razões para dar apoio prévio a um candidato a Director da Faculdade”. Texto esse que me motiva algumas reflexões
.
Começa e bem por destacar o papel importante que os actuais estatutos dão ao Director da Faculdade classificando mesmo os poderes que virá a ter como “praticamente ilimitados”. E como esses poderes são ilimitados, nada melhor do que ser o próprio a escolher os nomes que integram o colégio que o deve eleger e porventura “desnomear”.
Não posso obviamente estar de acordo com este princípio. Dados os amplos poderes de que dispõe o Director da Faculdade a função deste órgão colegial (Assembleia) deverá ser determinante e não se esgota na nomeação e eventual desnomeação como diz expressamente o autor do texto. É, em minha modesta opinião, o único órgão eleito e com poderes para avaliar, discutir, analisar e criticar a sua actuação.
A isto responde também o signatário da carta dizendo que há pessoas que não sabe a que mundo pertencem. Eu gostaria de sublinhar que há pessoas que pertencem a um mundo em se acredita num trabalho colegial, numa liderança que se possa criticar e influenciar. Considero mesmo o sistema colegial como a verdadeira essência do funcionamento universitário.
E aqui a escolha afigura-se-me simples. Ou escolhemos representantes em que se revejam as nossas posições, as nossas ideias o nosso espírito ou escolheriamos á partida um director para que ele próprio escolhesse os seus “representantes”.
A menor inocuidade democrática desta posição é ainda agravada quando a compara com as eleições legislativas. (“Os deputados à Assembleia da República também serão os fiscalizadores do Governo, e portanto do Primeiro-ministro, que daí resultarão.
E, no entanto, todos sabemos quem elabora a lista dos deputados e quem vai à
frente dela.”)

Tenho a veleidade de pensar, no mundo em que vivo, que:
1º Os bons exemplos devem ser seguidos
2º É das universidades, da sua capacidade para pensar em conjunto, para discutir, para antecipar, para investigar que pode nascer a liderança de processos políticos, democráticos, sociais e científicos.
Este abdicar desta importante vertente seminal, para importar exemplos da política geral do País, parece-me uma indesejável inversão de conceitos e de atitudes.

Mas ainda há uma frase que me motivaria uma discussão porventura demasiado académica para este momento:
… “eu não conheço nenhum movimento, nenhuma religião, nenhum programa político sem um líder. Como também não conheço nenhum líder político ou religioso sem um movimento, sem uma religião.”
Comentarei apenas que, em minha modesta opinião, há lideres que nascem do movimento que se gera, da tal antecipação que atrás falava como papel da universidade. Consagram em si as reflexões, o trabalho, as ambições e os princípios do movimento que encarnam.
Depois claro há os outros: que geram eles próprios os movimentos, que os controlam, fiscalizam e auto perpetuam. (Devo destacar que em minha opinião nenhum dos dois candidatos propostos se integra nesta definição).
No meu mundo universitário prefiro, talvez ingenuamente, os primeiros.

domingo, julho 05, 2009

A recordação

Cheguei agora mesmo da prova de homenagem. Uma oportunidade de relembrar o sorriso franco e aberto que aprendi a conhecer muito antes de ele ter entrado na adolescencia. Meio pesado, bonacheirão, que se tornava felino , frio e de eficácia incrível quando atirava.
- "ò Bebé explica-me como se parte aquele prato". E o puto ensinava-me repetidamente, com carinho e eterna paciência.
A última vez que o vi mostrava-me com orgulho uma enorme moto reluzente. Terá sido dessa moto também a sua última e derradeira visão.
Como gostava de acreditar que ele partiu apenas para o grande e eterno paraíso dos caçadores. Que a vida é injusta mas sábia...

quinta-feira, julho 02, 2009

Há dias...

Em que tudo corre ao contrario do planeado. Há situações que teimam em alterar-se. Ás vezes sucedem-se em "cluster" dificilmente explicáveis pelo acaso. Quase como um teste repetido á nossa resistencia á frustração. Penso que nessas alturas, melhor que a revolta, é deixar-se embalar pelas vagas continuas. E disfrutar do destino que nem sempre se pode controlar...

quarta-feira, junho 17, 2009

Saudades de ser médico



Por vezes assalta-me esta nostalgia. Do tempo em que na relação não se intrometia uma equipa de técnicos, 3 ou 4 administradores, "guidelines", orçamentos, planos quinquenais, produtividade, meta-análises, custo-benefício. Do diagnóstico que se fazia olhos nos olhos usando os sentidos e a sensibilidade. Do doente que não exigia TAC, RNM, video-eeg, PET. Como doente estarei porventura mais protegido? Se todos os exames forem normais acabará o meu problema quer como doente quer como médico?

quinta-feira, junho 11, 2009

Quase de saida do barranco

Despedida de um outono sereno e frio para um fim de primavera que desejo quente. Do novo para o velho mundo. De um eu para outro. E o rio correndo inexorável para "mar de la plata"...

terça-feira, junho 09, 2009

Vícios circulares

Dei comigo a pensar que há vícios que se saciam como a sede e há outros que se autoalimentam como os "lobbies".

terça-feira, junho 02, 2009

Ainda no barranco do rio Paraná

Depois de uma madrugada de patos "colorados" (os mais lindos) lendo Luís Rosa e o dia de Aljubarrota. Deixando-me embalar pelo português quase arcaico sem tentar entender cada palavra. Enquanto tento perceber o que nos separa do espanhol que me rodeia passados quase 700 anos.

sexta-feira, maio 29, 2009

Num barranco do rio Paraná lendo Roth

O animal moribundo com o rio correndo inexorável aos pés. As flechas certeiras do tempo, da justificação e do imaginário.É provável que seja um livro que não se deva terminar. Mas para imaginar finais de acordo com os momentaneos estados de alma.

sábado, abril 25, 2009

Quanto tempo duram as linhas paralelas ?

Duas linhas nunca começam paralelas. Primeiro é natural que se encontrem, se entrelacem, se confundam. Depois começa o caminhar lado a lado com os olhos no horizonte que se confunde facilmente com o infinito. Uma força e energia invisível mantem a distancia e os objectivos. Mas também a divergência não surge de repente. Apenas como algumas incursões a solo que rapidamente conduzem á gravitação da tal força. Até um dia.....

segunda-feira, abril 13, 2009

Orgulho sem preconceito

Nunca tive de sair por a isso ser forçado. Resisti aos vendavais ás tormentas e aos amigos. Á destruição, á calunia e á maldade. Á hipocrisia e á ganancia. Ao desamor e á paixão. A tudo sobrevivi com sofrimento mas sem vacilar. Agora que os últimos ecos se vão esmorecendo saio porque quero...sem vacilar e sem rancor. Sem dobrar.Por opção, sem estratégia e sem mensagem.

sábado, abril 11, 2009

Quantos anos tem a tempestade?

Desci da bicicleta para descansar antes de iniciar os 20 quilómetros que me faltavam para voltar a casa. Num canal estreito dois homens descarregavam para a margem de junco a safra de moliço do dia, que se ia juntar ainda brilhante ao pé do mais antigo que fumegava tranquilo.
A conversa que início, perguntas de circunstancia, e as respostas sincopadas de quem se vê interrompido no seu trabalho. Respostas avaliadas e pensadas a que não ligo grande importância.
Entretanto as nuvens adensam-se numa escuridão que prenuncia a tormenta.
- Bem, vou andando que desta molha já não me livro- disse olhando algo desconsolado para os finos pneus e montando na bicicleta. Pensava que o diálogo tinha terminado. Já tinha virado as costas e começado a afastar-me quando uma última frase me atingiu. tão inesperada como um raio:
- Essa tempestade é mais velha do que nós.
Olhei para trás com o desconforto da cabeça mal virada e num único olhar tentei avaliar a sanidade do homem. E fui sempre pedalando e esperando sentir a agulha do primeiro pingo ou o ressoar de algum trovão. Que nunca mais chegavam. Então entendi que por mais livros que tivesse lido, por mais metereologia que tivesse consumido, por maior sofisticação que presumisse possuir havia coisas simples que não vinham nos livros, que não constavam no vocabulário dos metereologistas e sofisticação que eu nunca seria capaz de atingir.
A tempestade era de facto mais velha do que nós. Aquando da última frase já ela tinha atingido o ponto de não retorno. Se tivesse continuado a falar com ele talvez ele me tivesse explicado que muitas das tempestades que presumi e antecipei já eram mais velhas do que eu...

domingo, fevereiro 01, 2009

Bens, opções e Gerações

Há primeiro o sistema monárquico. O filho é protegido até á exaustão em deterimento de outros com maior capacidade e merecimento. Existe um "complot" a dois, por vezes tão descarado que só os próprios não se apercebem do ridículo. Frequentemente a segunda geração sobrevive enquanto o progenitor protege afundando-se depois na mediocridade de que as circunstancias nunca o deixariam sair. Tem um elevado preço portanto.

Depois há várias variantes deste sistema. Escolhe-se por exemplo uma actividade na área de influencia do Pai. Aqui já o "complot" terá de ser a mais de dois, a três , quatro, os que forem precisos. E a necessidade de finas redes de interesses, concessões e cumplicidades por vezes tão intrincadas como a trama dos primeiros livros de Le Carré. São os "monárquicos encapotados" e por isso mais hipócritas do que os primeiros.
É de mais difícil detecção para os de fora. Mas o preço final é o mesmo. Podem atingir altíssimos parâmetros técnicos mas sentem no fundo que lá chegaram por favor. Continuam a não ter vida própria fora dessa rede que os protege da uniformização mas também os prende fora da criatividade, da evolução. E nunca é fácil quebrar uma rede que nos protege sobretudo se houver uma réstia incómoda de consciência e o receio do mundo fora dela que nunca se teve oportunidade de conhecer.

Depois há ainda os outros para quem a influencia economica, política ou profissional do pai nada significa, Ou porque o viu trabalhar arduamente e não quer essa vida. Ou porque na comparação que de si faz com a geração precedente se declarou vencido á partida. Aí resta-lhe esperar, ás vezes escolhendo uns hobbies mais ou menos profissionais como passatempo, até que para si transborde não a competencia, nem a influencia, nem mesmo o protagonismo. Mas apenas o dinheiro. Sobra-lhes na espera o ciume e a envidia. Chegará depois o remorso?

Claro que depois há os outros...os que todos conhecemos e admiramos.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

sábado, janeiro 10, 2009

Não será verdade mas...

O segundo marido de uma mulher autoritária é muito parecido com o carro que escolhe: grande, utilitário e barato.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

E agora a água. Travessia do Monzon com o "Bragueta"



Miragem e Pesadelo


Acidente no Deserto


Só mesmo um português e um marroquino para chocarem no meio do deserto.
Ao lisboeta terão faltado os semáforos. Ao marroquino os travões.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Machado de Assis

"A venalidade,
disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender
a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e
legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o
teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria
consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há
mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue
para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um
privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrado assim o
princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou
pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o
exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a
hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente."

A Igreja do Diabo, de Machado de Assis

sábado, janeiro 03, 2009













Numa imensidão de areia em que nem os horizontes têm fim......

A partir dai o leito já é marcado pela presença de pedras que um dia terão rolado das montanhas e aí se quedaram como a tenacidade


aparece a primeira árvore cinzenta e indefinida

TUDO O QUE LUZ É OURO

Por vezes procuramos a simplificação das coisas. Entramos numa relação superficial em que só o aspecto exterior nos interessa. Procuramos uma companhia que não suspeite da profundidade daquilo que pensamos e dizemos. De preferência que nem se aperceba desse mundo que transportamos dentro de nós qual “Esteves sem metafísica...” Alguém a quem o nosso percurso profissional nada diga. Que leia “hollas” e “point de vue” e não perceba porque passamos um ano a ler As Benevolentes. Ou que até ache esse titulo ousado e o tome como provocação pessoal, senão mesmo manifesto sinal de infidelidade.
Ou que procure nos “ Ratos e homens” da estante modelos de armadilhas para acabar com a praga.
Que nos olhe com ar de adoração desmedida mesmo que não passe de miopia ou de dilatação pupilar própria dos olhos claros.
E entramos como personagem numa telenovela quando preferíamos ao menos uma série inglesa. Não por uma questão de cultura mas por ser mais curta

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Sai-se Devagar do Deserto

Numa imensidão de areia em que nem os horizontes têm fim.
Pouco interessa como aí se chegou. Pela conquista metro a metro de uma longa e deliberada estrada e caminhos? Por uma sucessão de erros e desvios? Por defesa de princípios talvez ultrapassados? Por uma queda vertiginosa?
Qualquer das hipóteses é possível assim como todas elas. De lamentar mesmo é os que não sabem como lá foram parar.

E depois de lá estar, que emoções provoca o deserto? Silencio, solidão. Mas também uma liberdade sem limites, a superação e a sobrevivência.

Mas qualquer que seja o motivo que aí nos transportou e as sensações que nos provoca há um dia em que se começa a procurar o caminho de saída.
Alguns voltam cautelosos, quiçá arrependidos, pelo mesmo caminho que aí os conduziu. Muitos para descobrir que o regresso é apenas a primeira etapa de um círculo que obsessiva e insatisfatóriamente vão percorrer o resto da vida.

Mas já que estamos no deserto imaginemos que procuramos outra saída. Seguimos novos trilhos e novas pistas. Algumas vão desaparecendo de baixo dos nossos pés. Ás vezes parece que lenta e deliberadamente. Noutras o final é brusco e quase agressivo. Outras vão-se desviando e tomando rumos para fora de nós próprios e da rosa dos ventos.

Mas um dia encontraremos uma pista que conduz, simples e quase distraída, a algo que parece ser o fim de um leito seco de um riacho que há muito se perdeu no deserto. Seria irónico que a nossa saída começasse precisamente onde um dia se perdeu a água e a vida.
Vamos seguindo essa suspeita de leito seco que a principio parece tão ténue como a nossa convicção. Depois torna-se mais definido quase como um desejo. Em seguida surge o primeiro arbusto, ainda seco, talvez como a esperança no seu renascimento. A partir dai o leito já é marcado pela presença de pedras que um dia terão rolado das montanhas e aí se quedaram como a tenacidade.As pedras cada vez mais juntas dão mais firmeza aos nossos passos e caminhamos agora num equilíbrio instável. E ao longe aparece a primeira árvore cinzenta e indefinida. que depois se transforma num conjunto aleatório e espaçado. Aí começamos a ter certezas. Estamos de facto num caminho de saída.
Simultaneamente aparece-nos um nómada cuja tribo não conhecemos e as montanhas longínquas que limitam o deserto. O nómada não nos compreende mas a sua presença indica-nos que estamos num caminho que nunca trilhamos. O anel de montanhas abre-nos um vale como porta de saída.
Chegamos ao verdadeiro momento de decisão e percebemos que até aí vivemos apenas para a procura. Entramos nessa porta que se nos abre para fora do deserto mas para algo que desconhecemos? Ou retrocedemos prudentemente (?!)
Imaginemos que aceitamos essa porta, essa nova vida e o desafio. As árvores cinzentas entre cruzam-se agora com o verde ainda envergonhado das primeiras palmeiras. Que as vão progressivamente suplantando em número. É já visível a neve no cimo das montanhas. E não sabemos se o arrepio súbito que sentimos é devido ás longas sombras que sobre nós a montanha projecta ou se é um dos últimos apelos do deserto que nos chama para o seu calor.
No palmeiral cada vez mais denso ouviu-se agora mesmo o o barulho ensurdecedor de um bater de asas da primeira ave e a aldeia materializa-se a partir da terra vermelha.

Daí o percurso é fácil: alcatrão e movimento que recebemos sem tentar interpretar.

Mas para a libertação do feitiço do deserto é preciso um voo. Seja ele o avião para Lisboa seja um golpe de asa poderoso e decisivo. Para sair dele mas mesmo assim ficar mais próximos de nós, com que no seu seio nos reconciliamos.
Do deserto sai-se devagar...

O Haman

Em Marrocos, final do ano de 2008. Trinta e um anos depois da primeira visita não se pode dizer que Marraquesh tenha parado no tempo. Antes que parou na história enquanto a minha fluiu. Éramos 4 na altura, dos quais apenas um resta. Mesmo esse tinha uma vida para cumprir mas voltou. Tão diferente mas ainda tão previsível como os encantadores de serpentes e os vendedores de água de trajos garridos na Praça. Fiz uma incursão pelos novos bairros, estilizados e quase elegantes, mas foi ainda e mais uma vez a Medina e a sua confusão que me atraiu. Entre as duas visitas corri algum mundo. Satisfiz algumas ambições. Cumpri algumas promessas e alguns desejos.
Voltei mais só agora do que quando eramos 4. A um. Quase o mesmo que a dois. Apesar do fluir da minha história algo nesse aspecto se mantém, não como praga ou maldição mas talvez como opção nebulosa. Como a deste retornar á praça e á Medina.

Mas o hotel agora tem um SPA. Sauna, massagem e Hamam. Hamam? "c'est un truc humide" explicam-me.
Pensei que tivessem algum problema com os turcos (vá-se lá saber entre árabes) e preparei-me para o tradicional banho de vapor. Ao abrir a porta não se me deparou, contudo, a tal nuvem que esperava. Apenas uma sala grande forrada a mármore, uns bancos corridos de pedra e uma minúscula fonte num dos extremos. Que subitamente começou a jorrar água quente. Desiludi-me momentaneamente: torneiras também tenho lá em casa. Mas cedo a água extravasou a pia da fonte e vai inundando o enorme chão de pedra. Ainda penso em chamar a massagista com a ideia de qualquer avaria muito comum por aquelas bandas. Mas á medida que a água me chega ao chinelos e começa a subir até ao tornozelo começo a perceber ou a julgar entender. Depois do deserto, da secura, da aridez a luxúria da água até ao desperdício. Será este estranho contraste que leva as pessoas a voltar aos mesmo sítios? O hamam como recompensa do deserto mas ao mesmo mesmo tempo ressuscitando pelo excesso o desejo de aí voltar? E já agora, será a vida algo que se vive entre 2 hamans ou apenas neles?