segunda-feira, janeiro 12, 2009

sábado, janeiro 10, 2009

Não será verdade mas...

O segundo marido de uma mulher autoritária é muito parecido com o carro que escolhe: grande, utilitário e barato.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

E agora a água. Travessia do Monzon com o "Bragueta"



Miragem e Pesadelo


Acidente no Deserto


Só mesmo um português e um marroquino para chocarem no meio do deserto.
Ao lisboeta terão faltado os semáforos. Ao marroquino os travões.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Machado de Assis

"A venalidade,
disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender
a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e
legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o
teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria
consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há
mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue
para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um
privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrado assim o
princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou
pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o
exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a
hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente."

A Igreja do Diabo, de Machado de Assis

sábado, janeiro 03, 2009













Numa imensidão de areia em que nem os horizontes têm fim......

A partir dai o leito já é marcado pela presença de pedras que um dia terão rolado das montanhas e aí se quedaram como a tenacidade


aparece a primeira árvore cinzenta e indefinida

TUDO O QUE LUZ É OURO

Por vezes procuramos a simplificação das coisas. Entramos numa relação superficial em que só o aspecto exterior nos interessa. Procuramos uma companhia que não suspeite da profundidade daquilo que pensamos e dizemos. De preferência que nem se aperceba desse mundo que transportamos dentro de nós qual “Esteves sem metafísica...” Alguém a quem o nosso percurso profissional nada diga. Que leia “hollas” e “point de vue” e não perceba porque passamos um ano a ler As Benevolentes. Ou que até ache esse titulo ousado e o tome como provocação pessoal, senão mesmo manifesto sinal de infidelidade.
Ou que procure nos “ Ratos e homens” da estante modelos de armadilhas para acabar com a praga.
Que nos olhe com ar de adoração desmedida mesmo que não passe de miopia ou de dilatação pupilar própria dos olhos claros.
E entramos como personagem numa telenovela quando preferíamos ao menos uma série inglesa. Não por uma questão de cultura mas por ser mais curta

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Sai-se Devagar do Deserto

Numa imensidão de areia em que nem os horizontes têm fim.
Pouco interessa como aí se chegou. Pela conquista metro a metro de uma longa e deliberada estrada e caminhos? Por uma sucessão de erros e desvios? Por defesa de princípios talvez ultrapassados? Por uma queda vertiginosa?
Qualquer das hipóteses é possível assim como todas elas. De lamentar mesmo é os que não sabem como lá foram parar.

E depois de lá estar, que emoções provoca o deserto? Silencio, solidão. Mas também uma liberdade sem limites, a superação e a sobrevivência.

Mas qualquer que seja o motivo que aí nos transportou e as sensações que nos provoca há um dia em que se começa a procurar o caminho de saída.
Alguns voltam cautelosos, quiçá arrependidos, pelo mesmo caminho que aí os conduziu. Muitos para descobrir que o regresso é apenas a primeira etapa de um círculo que obsessiva e insatisfatóriamente vão percorrer o resto da vida.

Mas já que estamos no deserto imaginemos que procuramos outra saída. Seguimos novos trilhos e novas pistas. Algumas vão desaparecendo de baixo dos nossos pés. Ás vezes parece que lenta e deliberadamente. Noutras o final é brusco e quase agressivo. Outras vão-se desviando e tomando rumos para fora de nós próprios e da rosa dos ventos.

Mas um dia encontraremos uma pista que conduz, simples e quase distraída, a algo que parece ser o fim de um leito seco de um riacho que há muito se perdeu no deserto. Seria irónico que a nossa saída começasse precisamente onde um dia se perdeu a água e a vida.
Vamos seguindo essa suspeita de leito seco que a principio parece tão ténue como a nossa convicção. Depois torna-se mais definido quase como um desejo. Em seguida surge o primeiro arbusto, ainda seco, talvez como a esperança no seu renascimento. A partir dai o leito já é marcado pela presença de pedras que um dia terão rolado das montanhas e aí se quedaram como a tenacidade.As pedras cada vez mais juntas dão mais firmeza aos nossos passos e caminhamos agora num equilíbrio instável. E ao longe aparece a primeira árvore cinzenta e indefinida. que depois se transforma num conjunto aleatório e espaçado. Aí começamos a ter certezas. Estamos de facto num caminho de saída.
Simultaneamente aparece-nos um nómada cuja tribo não conhecemos e as montanhas longínquas que limitam o deserto. O nómada não nos compreende mas a sua presença indica-nos que estamos num caminho que nunca trilhamos. O anel de montanhas abre-nos um vale como porta de saída.
Chegamos ao verdadeiro momento de decisão e percebemos que até aí vivemos apenas para a procura. Entramos nessa porta que se nos abre para fora do deserto mas para algo que desconhecemos? Ou retrocedemos prudentemente (?!)
Imaginemos que aceitamos essa porta, essa nova vida e o desafio. As árvores cinzentas entre cruzam-se agora com o verde ainda envergonhado das primeiras palmeiras. Que as vão progressivamente suplantando em número. É já visível a neve no cimo das montanhas. E não sabemos se o arrepio súbito que sentimos é devido ás longas sombras que sobre nós a montanha projecta ou se é um dos últimos apelos do deserto que nos chama para o seu calor.
No palmeiral cada vez mais denso ouviu-se agora mesmo o o barulho ensurdecedor de um bater de asas da primeira ave e a aldeia materializa-se a partir da terra vermelha.

Daí o percurso é fácil: alcatrão e movimento que recebemos sem tentar interpretar.

Mas para a libertação do feitiço do deserto é preciso um voo. Seja ele o avião para Lisboa seja um golpe de asa poderoso e decisivo. Para sair dele mas mesmo assim ficar mais próximos de nós, com que no seu seio nos reconciliamos.
Do deserto sai-se devagar...

O Haman

Em Marrocos, final do ano de 2008. Trinta e um anos depois da primeira visita não se pode dizer que Marraquesh tenha parado no tempo. Antes que parou na história enquanto a minha fluiu. Éramos 4 na altura, dos quais apenas um resta. Mesmo esse tinha uma vida para cumprir mas voltou. Tão diferente mas ainda tão previsível como os encantadores de serpentes e os vendedores de água de trajos garridos na Praça. Fiz uma incursão pelos novos bairros, estilizados e quase elegantes, mas foi ainda e mais uma vez a Medina e a sua confusão que me atraiu. Entre as duas visitas corri algum mundo. Satisfiz algumas ambições. Cumpri algumas promessas e alguns desejos.
Voltei mais só agora do que quando eramos 4. A um. Quase o mesmo que a dois. Apesar do fluir da minha história algo nesse aspecto se mantém, não como praga ou maldição mas talvez como opção nebulosa. Como a deste retornar á praça e á Medina.

Mas o hotel agora tem um SPA. Sauna, massagem e Hamam. Hamam? "c'est un truc humide" explicam-me.
Pensei que tivessem algum problema com os turcos (vá-se lá saber entre árabes) e preparei-me para o tradicional banho de vapor. Ao abrir a porta não se me deparou, contudo, a tal nuvem que esperava. Apenas uma sala grande forrada a mármore, uns bancos corridos de pedra e uma minúscula fonte num dos extremos. Que subitamente começou a jorrar água quente. Desiludi-me momentaneamente: torneiras também tenho lá em casa. Mas cedo a água extravasou a pia da fonte e vai inundando o enorme chão de pedra. Ainda penso em chamar a massagista com a ideia de qualquer avaria muito comum por aquelas bandas. Mas á medida que a água me chega ao chinelos e começa a subir até ao tornozelo começo a perceber ou a julgar entender. Depois do deserto, da secura, da aridez a luxúria da água até ao desperdício. Será este estranho contraste que leva as pessoas a voltar aos mesmo sítios? O hamam como recompensa do deserto mas ao mesmo mesmo tempo ressuscitando pelo excesso o desejo de aí voltar? E já agora, será a vida algo que se vive entre 2 hamans ou apenas neles?