sexta-feira, janeiro 02, 2009

O Haman

Em Marrocos, final do ano de 2008. Trinta e um anos depois da primeira visita não se pode dizer que Marraquesh tenha parado no tempo. Antes que parou na história enquanto a minha fluiu. Éramos 4 na altura, dos quais apenas um resta. Mesmo esse tinha uma vida para cumprir mas voltou. Tão diferente mas ainda tão previsível como os encantadores de serpentes e os vendedores de água de trajos garridos na Praça. Fiz uma incursão pelos novos bairros, estilizados e quase elegantes, mas foi ainda e mais uma vez a Medina e a sua confusão que me atraiu. Entre as duas visitas corri algum mundo. Satisfiz algumas ambições. Cumpri algumas promessas e alguns desejos.
Voltei mais só agora do que quando eramos 4. A um. Quase o mesmo que a dois. Apesar do fluir da minha história algo nesse aspecto se mantém, não como praga ou maldição mas talvez como opção nebulosa. Como a deste retornar á praça e á Medina.

Mas o hotel agora tem um SPA. Sauna, massagem e Hamam. Hamam? "c'est un truc humide" explicam-me.
Pensei que tivessem algum problema com os turcos (vá-se lá saber entre árabes) e preparei-me para o tradicional banho de vapor. Ao abrir a porta não se me deparou, contudo, a tal nuvem que esperava. Apenas uma sala grande forrada a mármore, uns bancos corridos de pedra e uma minúscula fonte num dos extremos. Que subitamente começou a jorrar água quente. Desiludi-me momentaneamente: torneiras também tenho lá em casa. Mas cedo a água extravasou a pia da fonte e vai inundando o enorme chão de pedra. Ainda penso em chamar a massagista com a ideia de qualquer avaria muito comum por aquelas bandas. Mas á medida que a água me chega ao chinelos e começa a subir até ao tornozelo começo a perceber ou a julgar entender. Depois do deserto, da secura, da aridez a luxúria da água até ao desperdício. Será este estranho contraste que leva as pessoas a voltar aos mesmo sítios? O hamam como recompensa do deserto mas ao mesmo mesmo tempo ressuscitando pelo excesso o desejo de aí voltar? E já agora, será a vida algo que se vive entre 2 hamans ou apenas neles?

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