quinta-feira, junho 16, 2005

Laboratório de vida

Uma vida cheia de intimidade e de partilha. A possibilidade de perceber e aprender com os sentimentos, a sensibilidade, os erros, os defeitos e a coragem dos outros.Exemplos de resistência e exemplos de debilidade. De amor e ódio. De desinteresse e de ganância. De fria ponderação e de explosão descontrolada. Todos eles coexistindo num meio próximo, num tempo curto, muitas vezes na mesma pessoa.

quarta-feira, junho 15, 2005

Apenas ficção (parte 1)

Por pura distracção do destino nasceu na véspera de Natal. Cabeça grande, braços desproporcionadamente longos, olhos indefinidos. Que coisa feia comentou o avô com a experiencia de parteiro de mil partos e a franqueza de médico de família que de costume amenizava atrás de uma reconhecida sensibilidade. Foi apesar disso crescendo e tomando consciência do seu corpo, como de resto todas as crianças.

E começou a manipular objectos que, renitentemente, tinham uma relação instável e insegura com ele. Partiam-se, estragavam-se, deterioravam-se, imagine-se até que se desintegravam. Sem qualquer esforço aparente mas com consequências desastrosas. Mais para a sua própria personalidade que para a economia doméstica. Compensava no entanto este pormenor de somenos importância com uma imaginação produtiva e uma rara agudeza de raciocínio. Na sua mente podia manipular os acontecimentos e os objectos virtuais à vontade. Eles moviam-se à velocidade da luz para onde quisesse nas mais incríveis e inimagináveis trajectórias. Incólumes.

Chegou depois à idade de apreciar os outros. Os braços, a destreza, o carácter. Daí nasceu primeiro a consciência da diferença. Depois a admiração. No meio permaneceu a inveja. A revolta apareceu mais tarde. A raiva era apenas um escape ocasional.

Por essa altura o “morcego vermelho” era o seu herói e modelo. Mas todos temos também um pesadelo e uma consubstanciação do medo daquilo que não nos queremos sentir nem ser. E aconteceu transformar um inócuo tontinho do bairro a quem todos davam uma moeda para o café, nessa sombra persecutória e aterradora.
E começou primeiro a evita-lo. Depois a fugir e a esconder-se. Depois a desconfiar de todas as sombras. Nunca chegou a perceber se fugia apenas dele próprio.

terça-feira, junho 14, 2005


Champions of the World Posted by Hello