segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Uma semana da ilha do Sal

Em Lisboa nevava. Pouco mais de 3 horas de avião e um strip progressivo: casaco, camisola, mangas da camisa arregaçadas.O progresso que se nota passados quase 15 anos. Hoteis de mais de 500 quartos. Urbanizações em projecto ou em construção. A recordação de certo Algarve e a noção que pouco restará, num futuro próximo, daquela tranquilidade e daquele contacto simples com a natureza. Sempre mais longe no tempo e na distancia...Posted by Picasa

domingo, janeiro 22, 2006

As árvores morrem deitadas

O Alentejo verde e anormalmente quente de final de Janeiro. O descanso satisfeito num tronco triste de sobreiro caído. Em frente, outro de uma simetria quase perfeita. O silencio ligeiro quebrado pelo protesto de um ramo que resiste e suporta ainda toda a árvore que em tempos lhe deu vida. A cada gemido mais se acentuava a obstinação mas mais se esgotava a resistência. De súbito, sem dobrar, partiu-se apenas, com um som mais grave e definitivo. E a árvore que em tempo o suportou e que ele tinha amparado de forma passiva já sem vida, rodou tão devagar como o fluir dos séculos do seu cerne, até jazer, agora de vez, na terra pobre e arenosa. E o Alentejo regressou verde e quente. E a última gota do orvalho da manhã brilhou ao sol, nas folhas indecisas do renovo.

PS- Não tem metáforas. Apenas aconteceu no descanso, a meio de uma caçada, ontem, algures no Alentejo.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

debaixo do equador

Mas é justamente aí em S.Tomé que o drama começa e a paixão nasce.Paixão pelos direitos humanos? Era essa uma das incumbências de El-Rei para o herói. Limita-se se bem me lembro a visitar algumas roças e a salvar um indígena. Nunca foi ultrapassado pela situação porque nunca apresentou nem sequer pensou num plano lógico para inverter a escravatura real em que viviam os angolanos que para lá eram transferidos contra a sua vontade.Apaixonar apaixonou-se pela linda inglesa. O que daria até algum significado a outras lutas políticas que nunca o autor soube sequer enunciar. E já agora MST foi destacado há alguns anos, numa sondagem, como um símbolo sexual das mulheres portuguesas (sobretudo as casadas). Ora para um símbolo desses a imaginação (ou falta dela) demonstrada nas cenas mais picantes com uma loira tostada pelo sol, numa paisagem paradisíaca, praia deserta e a perder de vista, vento murmurando nos coqueiros a imaginação dizia, é muito indigente. Limitava-se por duas ou 3 vezes a enterrar a cabeça nos seios, porventura fartos e com outros atributos que se terá esquecido porventura de mencionar ou de notar.
Mas e o fim? No fim meus amigos...o herói morreu. Dizia Gabriel Garcia Marquez (no vivir para contar-la) algo como " nunca mates um personagem se não tiveres uma razão poderosa para isso".Terá ele morrido às balas da polícia à frente dos negros que devia proteger e que lutavam pela sua liberdade? Não. Terá ele sido vítima de envenenamento palaciano devido a ser incómodo para o capitalismo desenfriado? Também não. Terá ele morrido por uma causa? Também não. Suicidou-se tranquilamente. In style.
Quer-me parecer que para suicídio e sobretudo do herói teria Gabriel Garcia Marquez palavras ainda mais reticentes.
Fica a dúvida porque se terá o herói matado. Seria por ter descoberto a sua total inabilidade para a tarefa que o incumbiram e que nem sequer iniciou?Será que se teria suicidado da mesma forma, se em vez de encontrar a amante na cama com um negro a encontrasse com um capataz da roça ou mesmo com o marido?Ou seria porque o livro já ia longo e não sabia o que fazer com um personagem que começa como um cínico em Lisboa, continua como um incapaz e termina como um fraco?Felizmente o Equador não é autobiográfico...

PS: já agora sugeria que para a próxima edicção cortassem a verdadeira invasão de " enquanto que" que alaga o texto.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Na periferia do Equador


No ano que agora terminou muitas vezes ouvi falar de 2 livros. Num deles, o Código de daVinci terá de se reconhecer que foram utilizados todos os truques literários para prender a atenção. E prendeu, ao ponto de algumas pessoas cujo discernimento não punha em causa até então, confundirem a ficção com a realidade. Daria um interessante estudo genético a procura dos genes divinos no Y do Espírito Santo!

Mas do que queria falar era mesmo do Equador. Devo dizer em primeiro lugar que apreciei em tempos o MST, na reportagem e mais ainda como entrevistador de televisão. Parecia trazer um género descontraído, perguntas com senso, que quase faziam esquecer um certo ar "negligé snob".

Até que cheguei á leitura do Equador. Enorme como o paralelo de que tem o nome.
O período histórico escolhido tinha enormes potencialidades. O snobismo transparecia um pouco quando dedicou várias páginas à Purdey (uma das armas de caça mais caras e aristocráticas) de forma algo panfletária. Mas isso seria desculpável num caçador de tão recente data.
A parte do romance passado na Índia prende o leitor embora a história do jogador caído em desgraça seja tão velha como a literatura e seguramente já tratada por outros autores com muito maior fôlego. Daí o não se ter preocupado minimamente com o perfil psicológico do jogador. Mas o fundo moralista do pecado-castigo, do MST também já era bem conhecido. Quando não se entende condena-se convenientemente. Neste caso a um exílio em S. Tomé e Príncipe.
Salva-se desta fase a magnífica e escultural inglesa curtida pelo sol do subcontinente.
Que o seu herói encontra justamente nessas ilhas do equador

(tem continuação)Posted by Picasa