domingo, janeiro 22, 2006

As árvores morrem deitadas

O Alentejo verde e anormalmente quente de final de Janeiro. O descanso satisfeito num tronco triste de sobreiro caído. Em frente, outro de uma simetria quase perfeita. O silencio ligeiro quebrado pelo protesto de um ramo que resiste e suporta ainda toda a árvore que em tempos lhe deu vida. A cada gemido mais se acentuava a obstinação mas mais se esgotava a resistência. De súbito, sem dobrar, partiu-se apenas, com um som mais grave e definitivo. E a árvore que em tempo o suportou e que ele tinha amparado de forma passiva já sem vida, rodou tão devagar como o fluir dos séculos do seu cerne, até jazer, agora de vez, na terra pobre e arenosa. E o Alentejo regressou verde e quente. E a última gota do orvalho da manhã brilhou ao sol, nas folhas indecisas do renovo.

PS- Não tem metáforas. Apenas aconteceu no descanso, a meio de uma caçada, ontem, algures no Alentejo.

2 comentários:

frosado disse...

Gosto especialmente do "tronco triste de sobreiro caído" e "..., "folhas indecisas do renovo".
Com metáforas ou em elas é um texto sentido, parece-me a mim.

frosado disse...

eu queria escrever "sem elas"