segunda-feira, janeiro 09, 2006

debaixo do equador

Mas é justamente aí em S.Tomé que o drama começa e a paixão nasce.Paixão pelos direitos humanos? Era essa uma das incumbências de El-Rei para o herói. Limita-se se bem me lembro a visitar algumas roças e a salvar um indígena. Nunca foi ultrapassado pela situação porque nunca apresentou nem sequer pensou num plano lógico para inverter a escravatura real em que viviam os angolanos que para lá eram transferidos contra a sua vontade.Apaixonar apaixonou-se pela linda inglesa. O que daria até algum significado a outras lutas políticas que nunca o autor soube sequer enunciar. E já agora MST foi destacado há alguns anos, numa sondagem, como um símbolo sexual das mulheres portuguesas (sobretudo as casadas). Ora para um símbolo desses a imaginação (ou falta dela) demonstrada nas cenas mais picantes com uma loira tostada pelo sol, numa paisagem paradisíaca, praia deserta e a perder de vista, vento murmurando nos coqueiros a imaginação dizia, é muito indigente. Limitava-se por duas ou 3 vezes a enterrar a cabeça nos seios, porventura fartos e com outros atributos que se terá esquecido porventura de mencionar ou de notar.
Mas e o fim? No fim meus amigos...o herói morreu. Dizia Gabriel Garcia Marquez (no vivir para contar-la) algo como " nunca mates um personagem se não tiveres uma razão poderosa para isso".Terá ele morrido às balas da polícia à frente dos negros que devia proteger e que lutavam pela sua liberdade? Não. Terá ele sido vítima de envenenamento palaciano devido a ser incómodo para o capitalismo desenfriado? Também não. Terá ele morrido por uma causa? Também não. Suicidou-se tranquilamente. In style.
Quer-me parecer que para suicídio e sobretudo do herói teria Gabriel Garcia Marquez palavras ainda mais reticentes.
Fica a dúvida porque se terá o herói matado. Seria por ter descoberto a sua total inabilidade para a tarefa que o incumbiram e que nem sequer iniciou?Será que se teria suicidado da mesma forma, se em vez de encontrar a amante na cama com um negro a encontrasse com um capataz da roça ou mesmo com o marido?Ou seria porque o livro já ia longo e não sabia o que fazer com um personagem que começa como um cínico em Lisboa, continua como um incapaz e termina como um fraco?Felizmente o Equador não é autobiográfico...

PS: já agora sugeria que para a próxima edicção cortassem a verdadeira invasão de " enquanto que" que alaga o texto.

7 comentários:

frosado disse...

suicidou-se? ai valha-me deus, eu pensava que ele tenha morrido de febre do mosquito...malária!bem, tenho que ir reler! qt à apreciação sobre o mst, não haverá por aí uma certa dor de cotovelo?
nenhum homem suporta a concorrência dos outros, acho eu.

Abibir disse...

Será que nenhuma mulher suporta a ideia de não ser o centro do mundo em relação á motivação dos homens?

Anônimo disse...

Uma análise quase tão grande como o livro...
Do meu ponto de vista há neste comentário alguns aspectos contraritórios.Por exemplo,começa por tecer críticas ao autor por não caracterisar adequadamente o perfil psicológico do jogador.Mas,no capítulo seguinte,parece não entender o perfil psicológico do personagem e fornece multiplas hipóteses de actuação que o mesmo deveria ou poderia ter feito na Ilha...inclusivamente quanto à sua forma de morrer...

Fiquei com a sensação que é mais uma crítica ao autor( que até é um "sex symbol")do que ao livro...

Bom, mas é efectivamente um livro grande e um grande livro, que prende o leitor e se lê com muito mais entusiasmo do que outros "livros pequenos".

E para terminar : - Estou plenamente de acordo com a última frase "Felizmente o Equador não é autobiográfico..." -

Anônimo disse...

Hum...isto parece-me um daqueles casos em que "apontam o céu " e o critico fica a olhar para o "dedo":)

Abibir disse...

parece mais um caso em que não se aponta nada mais que a ingenuidade da mulher. Lembras-te do trinity?:)

Anônimo disse...

Parece uma resposta de alguém que, acusado de "cegueira",responde:"Só não vejo muito bem!":)

Traduzindo "ó homem de vistas curtas"..o livro é um bom retrato da época e do lugar..pq te limitas a olhar apenas o romance que não interessa a ninguém?:)

Abibir disse...

ah! Finalmente de acordo!:)