segunda-feira, julho 06, 2009

Conceitos

Nas presentes eleições para os órgãos de Gestão da nossa Faculdade, embora integre modestamente uma das listas, tentei manter um distanciamento que se não completamente neutro, me ajudasse a perceber os princípios das duas listas.
Apreciei a elevação e o espírito de cada um dos documentos elaborados e, devo dize-lo, agradaram-me como académico e fizeram-me sentir orgulho numa Faculdade que mostrou dentro de si o poder de discutir e de se renovar.

Tenho, por outro lado, uma enorme admiração, respeito e até gratidão pelo Professor Manuel Antunes.

E se me dou ao trabalho de sair do tal distanciamento gostaria de destacar que o faço apenas para defesa dos princípios que penso devem nortear uma vivencia universitária e á consideração que tenho pelo autor do texto “razões para dar apoio prévio a um candidato a Director da Faculdade”. Texto esse que me motiva algumas reflexões
.
Começa e bem por destacar o papel importante que os actuais estatutos dão ao Director da Faculdade classificando mesmo os poderes que virá a ter como “praticamente ilimitados”. E como esses poderes são ilimitados, nada melhor do que ser o próprio a escolher os nomes que integram o colégio que o deve eleger e porventura “desnomear”.
Não posso obviamente estar de acordo com este princípio. Dados os amplos poderes de que dispõe o Director da Faculdade a função deste órgão colegial (Assembleia) deverá ser determinante e não se esgota na nomeação e eventual desnomeação como diz expressamente o autor do texto. É, em minha modesta opinião, o único órgão eleito e com poderes para avaliar, discutir, analisar e criticar a sua actuação.
A isto responde também o signatário da carta dizendo que há pessoas que não sabe a que mundo pertencem. Eu gostaria de sublinhar que há pessoas que pertencem a um mundo em se acredita num trabalho colegial, numa liderança que se possa criticar e influenciar. Considero mesmo o sistema colegial como a verdadeira essência do funcionamento universitário.
E aqui a escolha afigura-se-me simples. Ou escolhemos representantes em que se revejam as nossas posições, as nossas ideias o nosso espírito ou escolheriamos á partida um director para que ele próprio escolhesse os seus “representantes”.
A menor inocuidade democrática desta posição é ainda agravada quando a compara com as eleições legislativas. (“Os deputados à Assembleia da República também serão os fiscalizadores do Governo, e portanto do Primeiro-ministro, que daí resultarão.
E, no entanto, todos sabemos quem elabora a lista dos deputados e quem vai à
frente dela.”)

Tenho a veleidade de pensar, no mundo em que vivo, que:
1º Os bons exemplos devem ser seguidos
2º É das universidades, da sua capacidade para pensar em conjunto, para discutir, para antecipar, para investigar que pode nascer a liderança de processos políticos, democráticos, sociais e científicos.
Este abdicar desta importante vertente seminal, para importar exemplos da política geral do País, parece-me uma indesejável inversão de conceitos e de atitudes.

Mas ainda há uma frase que me motivaria uma discussão porventura demasiado académica para este momento:
… “eu não conheço nenhum movimento, nenhuma religião, nenhum programa político sem um líder. Como também não conheço nenhum líder político ou religioso sem um movimento, sem uma religião.”
Comentarei apenas que, em minha modesta opinião, há lideres que nascem do movimento que se gera, da tal antecipação que atrás falava como papel da universidade. Consagram em si as reflexões, o trabalho, as ambições e os princípios do movimento que encarnam.
Depois claro há os outros: que geram eles próprios os movimentos, que os controlam, fiscalizam e auto perpetuam. (Devo destacar que em minha opinião nenhum dos dois candidatos propostos se integra nesta definição).
No meu mundo universitário prefiro, talvez ingenuamente, os primeiros.

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