sábado, abril 11, 2009

Quantos anos tem a tempestade?

Desci da bicicleta para descansar antes de iniciar os 20 quilómetros que me faltavam para voltar a casa. Num canal estreito dois homens descarregavam para a margem de junco a safra de moliço do dia, que se ia juntar ainda brilhante ao pé do mais antigo que fumegava tranquilo.
A conversa que início, perguntas de circunstancia, e as respostas sincopadas de quem se vê interrompido no seu trabalho. Respostas avaliadas e pensadas a que não ligo grande importância.
Entretanto as nuvens adensam-se numa escuridão que prenuncia a tormenta.
- Bem, vou andando que desta molha já não me livro- disse olhando algo desconsolado para os finos pneus e montando na bicicleta. Pensava que o diálogo tinha terminado. Já tinha virado as costas e começado a afastar-me quando uma última frase me atingiu. tão inesperada como um raio:
- Essa tempestade é mais velha do que nós.
Olhei para trás com o desconforto da cabeça mal virada e num único olhar tentei avaliar a sanidade do homem. E fui sempre pedalando e esperando sentir a agulha do primeiro pingo ou o ressoar de algum trovão. Que nunca mais chegavam. Então entendi que por mais livros que tivesse lido, por mais metereologia que tivesse consumido, por maior sofisticação que presumisse possuir havia coisas simples que não vinham nos livros, que não constavam no vocabulário dos metereologistas e sofisticação que eu nunca seria capaz de atingir.
A tempestade era de facto mais velha do que nós. Aquando da última frase já ela tinha atingido o ponto de não retorno. Se tivesse continuado a falar com ele talvez ele me tivesse explicado que muitas das tempestades que presumi e antecipei já eram mais velhas do que eu...

Nenhum comentário: