Doutora
Maria Cristina Januário Santos
“O título académico de agregado atesta, num
ramo do conhecimento ou sua especialidade, a qualidade do currículo académico
profissional, científico e pedagógico bem como a capacidade para investigação e
a aptidão para dirigir e realizar trabalho científico e independente.”
É assim
com estas palavras e com este entendimento algo “simplista e básico” na legislação
vigente que nos temos de confrontar ou conformar na elaboração do parecer que
me foi requerido pelo digníssimo Presidente do Júri das provas de Agregação da
candidata Doutora Maria Cristina Januário Santos.
O
Decreto vai mais longe definindo mesmo, aritmeticamente, o que deve ser
considerado pelo Júri no julgamento das tais qualidades, aptidão e capacidades
atrás enunciadas.
Assim:
Ponto
1, “Publicação de, no mínimo, quinze
artigos científicos em revistas indexadas Thomson Reuters (ISI) Web of
Knowledge. Oito destes artigos, deverão ter sido publicados após a obtenção do
grau de doutor, e situar-se nos Quartis 1, 2 ou 3 do Journal Citation Reports,
da ordenação ISI da respectiva área científica. Do total de artigos do
candidato, cinco deverão ter sido publicados nos últimos cinco anos e oito como
primeiro, segundo ou último autor”.
Quer
se critique ou não esta “exigência mínima”,
aritmética e um pouco ad latere do
que consideramos que deveria ser uma avaliação académica, certo é que a
candidata a excedeu largamente. Senão vejamos:
Número de publicações 61 (400% do exigido)
Últimos 5 anos 22 (275%) - sendo 10
quartil 1, 5 quartil 2 e os restantes do quartil
3 (Journal Citation Reports)
Como o doutoramento
decorreu há 5 anos estes números respondem, em parte, ao exigido no ponto 2 (“Do total de artigos do candidato, cinco
deverão ter sido publicados nos últimos cinco anos e oito como primeiro,
segundo ou último autor”).
Mas demonstrando uma
inesperada complacência legislativa, diz ainda o citado decreto no seu número
3: “Em alternativa ao estipulado no ponto
1 ter um total de 200 citações e um somatório de fator de impacto (IF) igual ou
superior a 50, bem como um número total de publicações não inferior a 10.”
Mesmo não
necessitando, a Doutora Maria Cristina Januário Santos, deste critério de
repescagem, ainda assim o seu CV a ele corresponde afirmativamente:
Número
de citações 1372 (686%)
Factor
de impacto: 227.193 (474%)
Numa
perspectiva mais Universitária, mas mesmo assim sem prescindir da obsessão
aritmética, o número 4 do decreto exige a “Orientação,
no mínimo, de uma dissertação de doutoramento e 10 dissertações de Mestrado ou
Mestrado Integrado.”
Mais uma vez o CV da
candidata se mostra conforme a exigência:
2
dissertações Doutoramento e 1 em co-orientação (CV pag 10) (200%)
20 dissertações de Mestrado Integrado, das quais 4 em
co-orientação (pag. 6 e 7 do CV) (200%)
Levar-nos-ia
muito longe a discussão dos fundamentos e importância do artigo 5º do presente
decreto: (“participação como investigador
em pelo menos um projecto financiado”) quando se discute a relevância, a
evidência, a intencionalidade e a justeza de muitos destes subsídios e bolsas
concedidos num passado próximo.
Mas,
apesar dessas vicissitudes e interesses que têm menorizado as àreas clínicas, a
candidata ultrapassa em 2.300% o mínimo exigível. Mesmo não contando com os
ensaios clínicos de fase II e III que o Sr. Ministro da Ciência recentemente
considerou, algo apressadamente na minha modesta opinião, não poderem ser
considerados como trabalho científico, mas que talvez por descuido ainda se
encontram plasmados no referido decreto.
-
Na
área da Doença Machado Joseph – três projectos com financiamento – (CV pag 13)
- Na área da Doença de
Huntington – três projectos na European Huntington Disease Network (Euro-HD),
Investigador Principal em Coimbra (CV pag 13)
- Na área de Doenças do
Movimento e Gânglios da Base - mais de 17 projectos
FCT, GAI.. (CV pag 14 e 15)
- Na Investigação
clínica participou em todos os ensaios clínicos na DP e HD realizados no centro
(cerca de 30) sendo PI nos últimos anos em 3. (CV Pag 16- 18)
Cumpre assim a
candidata todos os critérios numéricos exigidos no citado decreto.
Mas penso que para
avaliar o seu verdadeiro mérito para um título de agregado aquelas exigências
numéricas, não sendo displicentes e tendo sido largamente ultrapassadas pela
Doutora Maria Cristina Januário Santos, não são suficientes para definir nem
mesmo descrever as suas qualidades académicas.
Destaco a sua excelente carreira médica hospitalar que a conduziu,
ainda em 2002, ao lugar de Chefe de Serviço de Neurologia, um dos 4 existentes
no Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. O que
diz muito não apenas da sua competência técnica como da sua capacidade para
formar elementos, integrá-los em equipas e coordená-los com grande eficiência.
Condições necessárias à ascensão a este grau e nem sempre cumpridas por outros
candidatos mesmo recentes. Aqui ficam alguns exemplos dessa actividade:
- Coordenadora
da Consulta de Doenças do Movimento desde 1991.
- Coordenadora
da Consulta de Doenças Neurogenéticas, que fundou em 2000.
- Coordenadora
do sector de Internamento Neurologia B desde 2015.
Mas tem também a candidata obtido o reconhecimento dos seus pares
a nível internacional como demonstram os seguintes factos:
- Em 2016
integrou como investigador clínico principal o Grupo Europeu para o Estudo das
Atáxias, ESMI: European
Spinocerebellar Ataxia Type 3/Machado-Joseph Disease Initiative.
- Investigador
Principal do Estudo Observacional Registry e dos sub estudos; Registry Quality
of Life; Registry Young Huntington’s Disease da Rede Europeia “Huntington
Disease Euro-HD”
- Prémio “The Michael J. Fox Foundation for
Parkinson’s Research - 2013
- Prémio
Flad Life Science 2020
- Prémio
Neurociências Mantero Belard 2013
Foi também reconhecida a
sua importância a nível nacional ocupando cargos directivos de que destaco:
- Direção
da Sociedade Portuguesa de Neurologia 2005- 2007- Vice Presidente
- Direção da Secção de Doenças do Movimento da Sociedade
Portuguesa de Neurologia
- Vice Presidente - 1996- 2000
- Presidente - 2004- 2007
Tem igualmente uma grande experiência como docente, não só na
vertente prática que é, (como sempre deveria ser considerada nestes casos) uma
extensão da sua excelente actividade clínica, na vertente teórica, sendo
igualmente um dos 3 docentes seniores que asseguram o ensino teórico-prático (parte
essencial do ensino da Neurologia).
A candidata Doutora Cristina Januário Santos é assim um dos
últimos exemplos de como deveria ser o percurso de um doutorado e agregado de
uma cadeira clínica. Começando por uma carreira notável na área clínica, que
foi entrelaçando com a investigação necessária às questões que os doentes lhe
levantavam, articulando-se quando necessário com a ciência básica (transmitindo-lhe
o realismo e a visão de um clínico nem sempre presente noutras circunstâncias)
ao mesmo tempo que ía ensinando, os seus internos formando equipas coesas e
competentes, e as centenas de alunos com os quais contactou.
Apesar de esta intensa actividade, teve oportunidade de construir
um CV científico que compara e ultrapassa com frequência aquilo que é exigível
legalmente (e se tornou a norma da actual cadeia de produção de doutorados),
ser reconhecida como referência nacional e internacional na sua área.
Por todas estas razões, que seriam suficientes, mas mais ainda
pela diferença, pelo exemplo, pela qualidade e pelo reconhecimento do seu
trabalho, o meu parecer apenas podia ser positivo recomendando mesmo
pessoalmente a candidata para o título de agregação a que concorre.
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Professor Doutor Luis Augusto Salgueiro e Cunha
Coimbra, 29 de Dezembro de 2016