terça-feira, fevereiro 14, 2017

Sempre admirei os escritores que eram capazes de escrever no feminino. Que para mim atingiu o expoente máximo com Erik Orsenna e a sua “ Madame Bâ” uma africana do Mali que com a ajuda do seu advogado procura obter um visto para ir viver em França.
Como a ignorância é muito sem vergonha aqui vai a minha tentativa de uma carta de uma personagem fictícia que tem muito de várias outras bem reais.
"Olá!

Fiquei a pensar se te escrevia ou não na sequência da visualização da tua produção no blog. Não li tudo. Não estou na sintonia. Estou noutro mundo.

Mas não me és indiferente e gostei de te ver a produzir no blog.
aA tua vertente de escritor é uma vertente que gosto e de quando em quando vou reler-te. 

Umas vezes, muitas vezes, em fases em que estou
 descompensada (as mais frequentes no passado) mas outras, e foi o caso, em que o meu interesse é quase teórico.
Gosto de te ler porque traduzes bem estados emocionais próximos do que vou vivendo e gosto de te ler. Na escrita és como um velho amigo. E, como passaste tantas fases, há sempre uma mensagem de esperança que gosto de identificar.
Gosto de te ler porque traduzes bem estados emocionais  próximos do que vou vivendo e gosto de te ler. Na escrita és como um velho amigo. E, como passate tantas fases, há sempre uma mensagem de esperança que gosto de identificar.

Nestes textos, e comecei pelo primeiro das verdes colinas de África, reconheci-te o pedantismo e a marca provinciana que nem o Liceu Francês nem o mundo tqueque tiveste depois e permitiu ultrapassar e não tive muita empatia É uma espécie de deslumbramento perante ti próprio que eu sinto nos textos e que não tenho paciência. O senhor e os outros. Não são indígenas, mas estão lá perto. Olham-se com ternura como os pobrezinhos no Estado Novo.

Enfim, também pode ser um problema geracional, finalmente tens quase 70 anos e parece que a idade marca e nos distancia do cabelo comprido e os óculos de intelectual.

Não sou muito próxima do ambiente de caça, não lhe encontro mesmo qualquer sentido como actividadeatividade (turística? desportiva? hobby?) logo, saltei muitas linhas e apenas percebi o sentimento de o tempo imobilizado. É uma experiência que, por vezes, também atravesso. Compreendo. eE não é só por a terra ser Zulu. 

daDa caça, caça, passaste para o torgaTorga e é interessante porque ele introduz a dimensão dos afectosafetos na escrita e leva aos textos seguintes sobre a família, as raízes, a autoridade, o pai e a mãe. O feminino e o masculino em ti. Gostei. 

Os textos sobre o Torga são a antecâmara dos textos nucleares sobre a família.

Muito singular. Por vezes, quanto te leio sinto-te de uma transparência imensa, que só a escrita revela
..
...
Na vida real estás muito armadilhado. São muitos anos a vestir
 personagens. 

Não tenho ideia que seja uma mais valia conhecer-te pessoalmente.
Mas é a minha experiência, ,é só uma opinião e não falamos na dimensão de falar desde 2010. Fará sete anos um dia destes. talvez um ciclo que se feche. O anterior foi de duas vezes sete anos. Não deixa de ser singular.

Voltando ao Torga percebo, mas já sabia, que a tua relação com o Torga foi muito especial. Ou foi com o Adolfo que te deste?
Pensei que ias contar a história da última perdiz. Gostei que fossem outras.
Pensei que ias contar a história da última perdiz. Gostei que fossem outras. 

Surpreendeu-me escreveres sobre o teu pai.  
 
Sabes que, em todas as inúmeras conversas que tivemos, nunca me falaste do teu pai? 

Eu
,actualmente, atualmente vivo como se a minha mãe tivesse morrido, mesmo quando falo com ela. Se me estivesse a conhecer agora não te falaria da minha mãe. 

Nem do meu ex-marido. São duas pessoas que fiz morrer no meu quotidiano. Não existem o que me permite guardar as melhores memórias delas.
 

Logo, nestes pensamentos e descobertas sobre o papel dos presentes e ausentes importantes nas nossas vidas acabei por pensar em tuti e no papel da família no teu discurso, numa relação a dois e em ti próprio.
Por vezes, analisava e pensava que a tua personalidade border-line quando a leitura do teu comportamento me levava até aí, poderia enraizar-se, numa perspetiva próxima da psicanálise, nessa teia de afetos com as figuras parentais.
São o nosso chão. Não o escolhemos.
Por vezes, analisava e pensava que a tua personalidade border-line quando a leitura  do teu comportamento me levava até aí, poderia enraizar-se, numa perspectiva próxima da psicanálise, nessa teia de afectos com as figuras parentais.
São o nosso chão. Não o escolhemos.

Assim achei interessante e li com ternura o teu pai na tua vida, e essa leitura do passado de conciliação e amor e, principalmente, de te sentires testemunho da geração anterior.
penso
Penso que um dia também irás escrever sobre os teus filhos, mesmo o Gil e na Carlota que referes. Será um caminho.
Já falas com o teu filho Gil?

enfimEnfim, foi apenas uma boa companhia nesta tarde de sábado meem que me enrolo em casa no doce não fazer nada.

Não me és indiferente e, como te disse, na escrita, um velho amigo.

Um abraço e continua.


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