sexta-feira, abril 04, 2008

Primórdios


Setembro de 1947


O Outono adiava-se num fim de verão sereno e prolongado. De uma pequena estação de caminho de ferro, forrada com painéis de azulejos ingénuos, azuis e amarelos, escutava-se já um arfar rápido e ritmado que anunciava á distancia a chegada do comboio. No cais uma mulher jovem esperava.
Daí a pouco esse arfar tornou-se mais lento, forte e sincopado logo abafado por um ranger de ferros e gemido de travões. Ao ruído juntou-se um nevoeiro de fumo cortado pelos relampagos das faíscas que saiam das sofridas rodas metálicas e da chaminé.
O comboio para Lisboa tinha chegado.



Alguém observava de uma janela próxima a figura daquela mulher jovem. Costas largas e direitas, vestido azul e comprido, cabelo negro com o brilho da noite. Enquanto o revisor ajustava o pequeno banco de acesso á carruagem de 1ª, a imagem agora de perfil deu-lhe oportunidade de ver uns enormes olhos castanhos e atentos e o perfil agradável do rosto. E o estado de adiantada gravidez.

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